O Centenário de nascimento de Demósthenes Valois Pereira – “
Seu Zequinha”
As risadas era sua marca característica. Quem estivesse a
sua procura bastava ouvir de onde vinham para localizá-lo. Passava o dia todo
no Correio do Sertão escrevendo seus Recadinhos e fazendo alguma e outra
contabilidade do comércio local. Depois vinha para casa almoçar conversando
animadamente e dando suas risadas no caminho. Às vezes parava num barzinho para
tomar uma Catuaba, e quando estava comigo, algumas cervejas. Gostava muito de
conversar e contar sua trajetória quando foi para em Itabuna e lá trabalhou
numa papelaria sendo encarregado de fazer a escrita contábil da empresa. De
volta à terra natal, montou um pequeno comércio em Fedegosos adquirindo mais
prática em escrita comercial. Foi assim que logo após casar-se com Doma Corina
passou a exercer a função de guarda-livros de empresas do comércio local. Tão
habilidoso era na função que chegou a adquirir sólidos conhecimentos de
contabilidade. Nenhuma empresa administrada por ele teve algum contratempo com
os órgãos de fiscalização o que lhe granjeou prestígio junto aos comerciantes.
E tudo isso sem ter o segundo grau o que demonstrava uma inteligência
privilegiada.
Todavia, a escrita era sua paixão e para dar vazão a ela
começou a escrever uma coluna no jornal Correio do Sertão a qual deu o nome de
“Só um Recadinho”. Essa vocação pela escrita veio do bisavô Honório de Souza
Pereira, avô e homônimo do fundador do Correio do Sertão, pai de “seu”
Zequinha. Honório bisavô tinha queda pelas letras e foi o primeiro personagem
morrense a escrever a história da cidade (1899) num caderno e que foram
reunidas num pequeno livreto cujas informações foram atualizadas pelo seu neto
Honório e publicado no ano de 1919 pelo Correio do Sertão.
Honório bisavô foi personagem de relevo na política morrense
tendo sido eleito vereador e cumprido o mandato de 1876 a 1880. O neto fundador
do Correio do Sertão, também tinha a escrita como vocação. Sua vontade de ter
um jornal era tanta que começou a fazê-lo em papel manuscrito o qual distribuía
gratuitamente às pessoas de destaque na sociedade local. Até que, com extremo
sacrifício, reuniu condições para comprar uma máquina tipográfica e com ela
pode realizar seu ideal. A primeira edição do jornal saiu no ano de 1917 e até
hoje ainda circula, sendo o segundo jornal mais antigo do Estado da Bahia.
Daqui a dois anos ele fará seu centenário, evento o qual Honório jamais esperou
que acontecesse. Com a morte de Honório o jornal foi sendo administrado pelos
filhos Adalberto, Demósthenes e Tota. Todavia foi Paulo Gabriel de Oliveira
quem deu continuidade efetiva ao jornal, sendo que atualmente está sob a
direção de seus filhos Edson Vasconcelos (Ecinho) e Paulo Sérgio.
Falta dois anos para o Correio do Sertão fazer cem anos,
mas, Demósthenes Valois Pereira, nosso querido Zequinha faria seu centenário
nesse ano. E, por conta desse evento que nos deixa saudosos, é que relembramos
um pouco da sua trajetória que, se não foi brilhante, ao menos foi digna e
honrada. Um homem que com poucos estudos, mas amante da leitura conseguiu
superar os obstáculos quase intransponíveis para ter acesso à alta cultura,
escrevendo seus recadinhos sempre com temas relevantes e atuais que
conquistaram uma legião de fãs. Em memória dele e para toda família, levamos
nossas congratulações afetuosas.
Lauro Adolfo.
Fonte: Correio do Sertão 15 Out 2015