( - 1880?)
Segundo comunicação verbal de Carlos Navarro Sampaio, o coronel Quintino, descendente de nobres, era filho de um capitão-mor de Minas Gerais, que veio para Jacobina a procura de ouro, onde se casou.
O coronel era uma pessoa muito rica, de um nível cultural muito elevado para a sua época, pois inclusive falava francês. A sua viagem de casamento abrangeu a França, Portugal, Grécia, Egito e Palestina.
O Coronel Quintino estabeleceu-se na sua fazenda Gurgalha, situada a 12km ao norte de Morro do Chapéu, por onde passava a antiga estrada para Jacobina. Essa fazenda abrangia a região do rio Ligeiro e dos povoados de Palmeiras, Barra, Tamboril e Icó. Nessa propriedade, onde ficou até a sua morte, ele possuía uma mesa especial, com talheres de prata, para receber as visitas mais importantes. Como grande fazendeiro, era proprietário de mais de 100 éguas, além de muitos burros, já que se dedicava basicamente a criar gado.
Segundo Sampaio (2009), com o casamento do Coronel Quintino, proprietário da fazenda Gurgalha, com Umbelina Adelaide de Miranda, herdeira da fazenda Olhos D’Água, fundiram-se as duas grandes propriedades, agregando parte dos atuais municípios de Mguel Calmom e Jacobina.
Segundo Márcio Brito (comunicação verbal), o coronel possuía cerca de 70 escravos negros, para cuja manutenção semanalmente mandava matar um boi. Os escravos tinham um regime especial, pois embora trabalhassem para o coronel, detinham liberdade para viajar sozinhos e não tinham feitor. A maioria dos escravos que ele possuía era fugitivos localizados pelos seus escravos-vaqueiros. Os fugitivos eram trazidos para sua fazenda onde eram interrogados e identificados, possibilitando que o coronel Quintino os adquirisse de seus proprietários originais e depois os libertasse. Desse modo, agradecidos, não fugiam. Certa vez, em plena seca, o gado apareceu com as pernas molhadas e enlameadas. Um escravo comunicou o fato ao coronel Quintino, que ordenou que ele seguisse os animais e descobrisse o local da aguada. Nessa área nasceu o núcleo urbano que hoje constitui o Distrito de Icó (fruta comprida, com no máximo 20cm de comprimento, que é comestível pelo gado). Posteriormente esse escravo recebeu essa área em doação.
O manejo do gado era efetuado entre as fazendas Gurgalha, Gaspar, Icó, Cercado Santo e Olho D’Água (que tinha cerca de 25.000 hectares). A produção de couros de bois era armazenada e em certa época do ano era vendida em Cachoeira, de onde ia de barco para Salvador, em troca de sal, querosene, etc.
O coronel Quintino era representado em Morro do Chapéu por José Florêncio de Miranda Bagano e pelo seu afilhado major Pedro Celestino, que tinham autorização para somente consultá-lo em situações especiais.
Ainda segundo Carlos Navarro Sampaio, o coronel Quintino tornou-se inimigo do coronel Porfírio Pereira, em função de profundas discordâncias sobre a maneira como os escravos deveriam ser tratados, e pelo fato do mesmo fornecer abrigo a fugitivos vindos de Lençóis e de outros lugares do Brasil. Com relação a esse último item, as coisas tomaram um rumo de tal ordem, que o Ventura estava se tornando um foco de jagunços. Foi então que, em 1868, o coronel Quinino mandou cercar o Ventura e pegar esse povo todo, que foi levado amarrado para lutar como voluntário na Guerra do Paraguai. Nesse contexto levaram bandidos e homens de bem. Logicamente, essa operação quase destruiu o Ventura.
Ele também tinha uma irmã, de nome Prisilina, que se casou com o filho do capitão-mor de Jacobina e em segundas núpcias com Luiz Barreiros, que era juiz ou promotor em Jacobina.
Atualmente a fazenda Gurgalha, que também foi propriedade do capitão Ulysses Gabriel de Oliveira, pertence aos herdeiros de Guilhermino Rocha. A sede, um casarão em estilo colonial, parcialmente descaracterizado, ainda resiste mas está para desmoronar.
Jackson Ferrreira, professor da UNEB em Jacobina, realizou seu dotorado sobre afazenda Gurgalha, e informa: 46 disse:
Pesquiso sobre Quintino, mas precisamente sobre os seus dependentes. Tenho algumas informações que podem ser úteis para agregar a Quintino. Sobre o casamento de Quintino: "Aos Treze dias do mês de Setembro do ano de mil oito centos e trinta e quatro na Capela do Morro do Chapéu, filial dessa Matriz depois de feitas nela as denunciações na forma do Concílio Tridentino e obtido Alvarás de licença do Vigário Antonio Theodoro em presença do Padre Francisco Gomes de Araujo e das testemunhas Antonio José Guimarões e o Tenente Brás de Souza Pereira se casarão solenemente por palavras Quintino Soares da Rocha com Umbelina de Souza Miranda, ele filho legítimo do Capítão Mór Manoel Soares da Rocha e Maria Dormente do Rosario, e ela filha letígima de Manoel Joaquim da Silva Miranda e de Izabel de Souza Lemos, brancos todos naturais nesta freguesia, e dando para se casarem fiança a banhos(sic), e digo este casamento foi feito no Oratório da Fazenda Olho d’Agua com tudo conta no Alvará, e licença do referido vigário com a data de nove do referido mês, e ano, a qual licença fica no Arquivo desta Matriz para a todo tempo constar e logo receberão as bênçãos conforme o rito(sic) da Santa Madre Igreja Romana. (Livro de Casamento da Igreja Matriz de Santo Antonio da Jacobina – 1825-1841, fl. 82v e 83. ". Quintino tinha outros irmãos, entre os quais Galdina Cândida Soares da Rocha e casou com o Major Carlos Lopes Cesar e passou a se chamar Galdina Cândida da Rocha Cesar; Guilhermino Soares da Rocha, que também foi comandante da Guarda Nacional. Presilina casou-se primeiro com Antônio Lopes Cesar, irmão do major Carlos. Presilina teve 3 filhos, dois meninos do primeiro casamento e uma menina da segunda. Um dos filhos, João da Rocha Cesar, teve um relacionamento com uma escrava de Quintino, seu tio, antes de casar-se. Dessa relação nasceu Laura da Rocha Cesar, que foi declarada uma das herdeiras de Quintino.