O político Carlos Xavier de Oliveira ( - 11.11.1982)
Conhecido como Carrinho, foi vereador em Morro do Chapéu e Cafarnaum, além de prefeito de Cafarnaum em duas oportunidades (07.04.1967-07.04.1971 e 1973-01.02.1977). Era uma pessoa muito franca, muito atirada, não tinha nenhuma reserva sobre qualquer assunto. Era sincero, honesto e possuia uma visão fora do comum.
Lourival
Cunegundes lembra de alguns episódios ocorridos com esse seu amigo:
a)
em 1958, Lourival Cunegundes (PSD) e o padre Juca (UDN) disputaram a eleição
para prefeito. Nessa época, por influencia política do deputado Manoel Novaes,
foi criado em Cafranaum, o Partido Republicano (PR), sob a direção do coletor
estadual Djalma Rios. Após criar o diretório municipal, Rios convocou uma
reunião com os membros do partido para saber a opinião das bases, com relação a
um possível apoio do PR ao candidato do PSD ou da UDN. Após Rios registrar o
desejo democrático de ouvir as diversas lideranças, Carrinho se manifestou: Sr.
Presidente do Diretório, meus colegas e amigos. Vocês sabem que durante toda a
minha vida eu pertenci ao PSD. Mas, com a influencia do grande líder Manoel
Novaes, eu aderi ao PR. Entretanto, vou dizer aos senhores. Se hoje aqui, o
diretório decidir apoiar o candidato da UDN, eu disadiro agora mesmo.
b)
Carrinho era prefeito de Cafarnaum quando certa vez chegou um circo na cidade.
Entretanto o movimento foi muito pequeno e praticamente não havia receita na
bilheteria. Os artistas começaram a passar dificuldades. Até comida estava
faltando. Após uma reunião eles decidiram que deviam partir para outra praça
mais rendável, necessitando para isso de uma ajuda do comércio local e, quem
sabe, da prefeitura. Ali é que não podiam continuar. Nessa reunião foi decidido
que o dono do circo, que também era o palhaço, iria falar com o prefeito, expor
a situação e pedir uma ajuda. E lá foi. Chegando na prefeitura solicitou ser
recebido e disse:
-Bom dia senhor prefeito.
-Bom dia. Quem é o senhor?
-Eu sou o palhaço do circo.
Acontece que estamos numa situação muito difícil, sem dinheiro e inclusive
estamos com dificuldade até para deixar a praça. Desse modo estamos solicitando
uma ajuda da prefeitura.
Carrinho
voltou-se então para o seu secretário que acompanhava a conversa e perguntou:
-Oh Tonho, olha aí se tem verba
para palhaço de circo.
Tonho,
após um demorado exame de alguns documentos, exclamou todo compenetrado da
importância da sua participação naquela conversa: Tem não, seu Carrinho.
Ouviu? Você tá
despachado, pode ir embora. Não tem verba para palhaço de circo.....
O
palhaço ficou todo abatido, agradeceu deu as costas e foi saindo devagar,
quando então Carrinho disse:
-Olhe moço. Vou lhe dar 20 aqui,
mais não é do orçamento não. Tome. É do meu bolso, viu?
O
palhaço ficou numa alegria só, agradeceu dez vezes e saiu todo feliz. Carrinho
ficou pensativo alguns instantes e concluiu:
-Oh Tonho. Bota esses 20 aí na
verba de calçamento.
c)
Lourival Cunegundes foi fiscal estadual em Cafarnaum, quando Carrinho tinha
deixado de ser prefeito. Ele tinha um armazem-depósito, onde negociava produtos
originados de suas fazendas (algodão, mamona, milho, etc). Certo dia quando
Lourival estava fazendo a contabilidade da coletoria, quando chegou o
Coordenador de Arrecadação da Região, Ubirajara Santos Leite, que foi logo
dizendo:
-A arrecadação desse mês caiu
muito. Precisamos fazer um esforço para melhorar. Vamos arrecadar mais. Entre
aqui no carro e vamos dá logo uma volta para inspecionar o comércio.
Lourival então disse:
-rapaz, não vamos conseguir quase
nada. Hoje é quinta–feira, tá tudo parado, não adianta. Entretanto Ubirajara
insistiu e saíram no carro da Secretaria da Fazenda. Logo, logo passaram na
porta do armazém de Carlito, que tinha algumas mercadorias à vista. Ubirajara
então disse:
-olha ali. Olha ali, veja quanta
mercadoria. Você já viu aquilo?
-Aquilo ali é produção dele
mesmo. Ele não comprou de ninguém.
-Não, vamos ver aquilo ali.
Entraram no deposito e Ubirajara
saudou:-Bom dia, ou melhor boa tarde.
-Boa tarde. Quem é o senhor?
Eu sou Ubirajara Santos Reis. Sou
o Coordenador Regional da Fiscalização aqui.
-E o que é que o senhor deseja?
-Eu desejo saber a procedência
dessa mercadoria. Quero ver as notas fiscais.
-Eu não tenho notas fiscais
dessas mercadorias. Isso tudo é produção dos meus meeiros. Eu compro a parte
deles, junto com a minha parte e boto tudo aqui. Quando um caminhão chega e
compra a mercadoria, sai tudo legalizado. Tá aqui Lourito que é fiscal também e
é testemunha de que eu faço isso.
Ubrajara
não se deu por vencido e rebateu: mas a parte dos meeiros o senhor está sujeito
a pagar imposto. O senhor mesmo disse que comprou deles. Essa parte é
tributável.
Carrinho
então bem calmo perguntou: mais como é mesmo o nome do senhor?
-Ubirajara Santos Reis.
-De Santos o senhor não tem nada.
O senhor tem é do cão.
Ubirajara
tratou logo de passar o problema adiante:
-Lourito, você resolve esse
problema.......
Margarida
Pinto relatou dois outros episódios:
a) o Secretário de Educação do
Estado mandou fazer uma pesquisa sobre a situação do ensino nos municípios.
Face à precariedade das estradas o funcionário designado para fazer o trabalho
em Cafarnaum, chegou na cidade por volta da meia-noite e na sua santa
ingenuidade na mesma hora se dirigiu à casa do prefeito, para se apresentar.
Quando ele bateu na porta, Carrinho perguntou:
-Quem é?
-Sou eu.
-Eu quem?
-O representante da Secretaria de
Educação.
-Não acredito. Representante da
Secretaria de Educação não. Você não tem educação nenhuma. Como é que se bate
na porta de um cidadão uma hora dessa? Meia-noite. Não pode ser. Pode tratar de
se retirar.
b) certa vez, face a proximidade do 7 de Setembro,
Carlito ordenou a compra de uma bandeira brasileira, para ser usada nas
solenidades. Esclareceu porém que ele queria uma bandeira nova, diferente. Não
queria uma bandeira verde e amarela, muito comum e que todo mundo tinha.
Entretanto, depois de muito discutir, ele achou melhor mandar cancelar a
compra.